miércoles 5 de febrero de 2025
Search
Close this search box.

Aumentam as sanções dos EUA, avançam as reações do Sul Global

Nova Delhi (Diálogos Do Sul Global): Os países imperialistas liderados pelos EUA têm imposto sanções unilaterais -sem qualquer apoio das Nações Unidas- contra países que se atrevem a desafiar o seu diktat. De acordo com uma estimativa, quase um terço dos países do mundo foram sujeitos a essas sanções numa altura ou noutra.

Por Prabhat Patnaik


Essas sanções incluem o congelamento dos ativos dos países sancionados que se encontram em instituições financeiras ocidentais, como foi o caso do Irã, de Cuba e da Coreia do Norte, entre outros, e da Rússia, mais recentemente

Embora esse congelamento de bens seja manifestamente contrário às regras do jogo do capitalismo e constitua um ato de banditismo internacional, os países imperialistas não hesitaram em impô-lo. E, para pôr sal na ferida, os EUA pagaram recentemente à própria Ucrânia o montante dos juros ganhos sobre os ativos russos congelados por causa da guerra ali promovida pela Otan, para financiá-la.

Além disso, enquanto as políticas neoliberais estão a ser impingidas ao Sul Global -com o argumento totalmente ilusório, mas incessantemente repetido, de que são benéficas para ele- os próprios EUA têm adotado medidas protecionistas, basicamente para impulsionar o seu emprego interno e reduzir o seu déficit comercial.

O imperialismo americano acredita que pode fazer o que quiser, que é uma lei para si próprio. Se as suas ações violam as regras do jogo capitalista, se violam os próprios princípios cuja sabedoria advoga em todo o mundo, isso pouco lhe importa. Mas a sua imposição unilateral de vontade sobre outros países está agora a ser seriamente desafiada. Na verdade, está a ser reembolsada na sua própria moeda.

A sua proibição da exportação de tecnologia de semicondutores para a China provocou, em resposta, uma proibição, por parte da China, das exportações para os EUA de antimônio, que é utilizado numa série de atividades relacionadas com a “segurança”, o que fez subir bastante os preços do mineral nos EUA.

Mais recentemente, a China infligiu um rude golpe aos EUA ao anunciar que deixará de comprar petróleo americano. De qualquer modo, as importações chinesas de petróleo dos EUA têm a diminuído nos últimos tempos. Em 2023, a China havia importado 150,6 milhões de barris de petróleo dos EUA, mas em 2024 essas importações desceram para 81,9 milhões de barris, ou seja, até 46%. A posição da China, que era de segundo maior importador de petróleo dos EUA, passou para a de sexto maior, e agora vai cessar completamente as importações do óleo estadunidense.

O anúncio da China enfureceu Donald Trump, cujo primeiro governo foi marcado pela ascensão dos EUA como maior produtor de petróleo e gás do mundo, e também um exportador. Uma das razões prováveis para a explosão do gasoduto Nord Stream em 2022, que o jornalista norte-americano Seymour Hersh aponta ter sido obra da CIA, era eliminar a dependência da Europa do gás russo e torná-la mais dependente dos fornecimentos dos EUA.

De fato, foi exatamente isso que aconteceu posteriormente. A ação chinesa que proíbe a importação de petróleo americano vai, portanto, contra esta política dos EUA de encontrar mercados de exportação para as fontes de energia americanas e de tornar países dependentes da importação de energia dos EUA.

Além disso, a proibição chinesa de importação de petróleo americano é, simultaneamente, um ato de retaliação contra as restrições comerciais impostas pelos EUA às exportações chinesas e também um meio de reduzir a dependência dos EUA relativamente às suas necessidades energéticas, precisamente para eliminar qualquer vulnerabilidade à pressão americana no futuro.

Surpreendente também é a forma como a China propõe compensar a falta de importações de petróleo dos EUA. A perda das importações dos EUA seria agora compensada com maiores importações da Rússia, do Irã e da Venezuela, os três países que têm estado entre os alvos mais importantes das sanções americanas.

Devido a estas sanções, o petróleo destes países está atualmente disponível a baixo preço. Para a China, por exemplo, o petróleo russo será mais barato do que o petróleo dos EUA, de modo que, ao mesmo tempo que se livra da sua dependência dos EUA, a China também obtsul gloerá petróleo mais barato através dos novos acordos que irá celebrar.

Em contrapartida, os EUA, que obtiveram uma grande “vitória” ao conquistar o mercado europeu da energia, perderão o mercado chinês e a sua influência em relação à China.

A ira de Donald Trump neste contexto não é surpreendente. Trump acusa a China de travar uma guerra comercial contra os EUA, mas a realidade é que a China está a tomar medidas para se defender há já algum tempo da guerra comercial lançada pelos EUA contra ela.

As medidas unilaterais americanas, que até agora foram o meio de intimidar países indefesos para seguirem a linha do imperialismo liderado pelos EUA, estão agora a dar origem a um novo conjunto de acordos internacionais que afrouxariam o domínio econômico do imperialismo estadunidense.

Enquanto as ações americanas eram dirigidas apenas contra alguns pequenos países infelizes que se podiam contar nos dedos, elas podiam ser eficazes, e os países visados coagidos à subserviência dentro da hegemonia imperialista. Mas quando essas ações visam uma grande faixa de países, então começa a emergir um arranjo alternativo; a hegemonia imperialista é abalada se for exercida abertamente contra um terço dos países do mundo.

Tudo isto tem uma relação importante com o papel do dólar. O fato de a China importar energia da Rússia, do Irã e da Venezuela -sendo os dois primeiros membros dos BRICS e o terceiro espera incorporar-se no futuro- implica um aumento do comércio no seio dos Brics.

Tal comércio não será necessariamente efetuado em dólares americanos: o dólar não será o meio de pagamento nas trocas entre os países do Brics. Embora a forma final do acordo monetário entre os países Brics seja ainda uma questão em aberto, já é claro o fato de que o comércio entre eles não será denominado em dólares.

Na verdade, essa foi a mensagem dos países Brics na cúpula de Kazan. A ação da China ao proibir as importações de petróleo dos EUA expandirá o comércio não só no interior dos Brics, como também reforçará um sistema monetário alternativo que servirá para minar a posição hegemônica do dólar.

É certo que a deslocação do dólar não acontecerá da noite para o dia, mas estão claramente em andamento movimentos no sentido de minar a sua hegemonia.

Trata-se de uma evolução potencialmente libertadora. O regime neoliberal que mantém o Sul Global sob a sua opressão chegou a um beco sem saída, acentuando grandemente o sofrimento das populações trabalhadoras. Embora não esteja em causa um fim para a crise do neoliberalismo dentro do próprio neoliberalismo, a ruptura com este regime implica um sofrimento transitório substancial, precisamente para aquelas pessoas cujos interesses exigem tal ruptura. Este sofrimento deve-se tanto ao funcionamento espontâneo do neoliberalismo como às sanções imperialistas que apoiam essas ações espontâneas.

Por exemplo: qualquer país do Sul global que imponha controles de capitais a fim de reavivar a autonomia do seu Estado-nação, de modo a poder prosseguir uma agenda econômica pró-popular sem receio de fuga de capitais, descobrirá que no curto prazo já não pode mais cobrir o seu déficit comercial, uma vez que o financiamento não fluirá para ele. Isto exigiria também controles comerciais, o que reduziria a disponibilidade de bens a nível interno e, portanto, aumentaria ainda mais a compressão da procura sobre o povo trabalhador no período de transição.

No entanto, a existência de um acordo comercial e monetário alternativo pode reduzir este sofrimento transitório, especialmente se esse arranjo assumir a forma dos acordos comerciais bilaterais que a União Soviética tinha no seu tempo com muitos países do Sul Global.

O potencial para a ruptura com o regime neoliberal está portanto a aumentar; e a ação da China ao estabelecer acordos alternativos de importação de petróleo sublinha esse potencial.

Identificador Sitio web Ecos del Sur
Dialogos do Sul

Dialogos do Sul

Diálogos do Sul Global, fundada em 2011, é uma revista blilíngue, que nasce como herdeira da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Ao longo dos anos, firmamos parcerias com importantes agências de notícias estrangeiras e nacionais, como Prensa Latina e Interpress Service (IPS), com os jornais La Jornada, do México, e Página/12, da Argentina, e o site Opera Mundi, entre otros. As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.
últimos artículos :

……………………………………………….

Las opiniones expresadas en estos artículos son responsabilidad exclusiva de sus autores.

……………………………………………….