domingo 27 de abril de 2025
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Frei Betto | Comunicação é primeiro passo para Lula melhorar percepção de brasileiros

Sao Paulo (Diálogos do Sul Global): O governo Lula inicia o terceiro ano de mandato enfrentando um desafio central: recuperar a confiança de parcela expressiva da população que permanece cética quanto aos rumos do país.

Por Frei Betto

   Apesar de avanços em áreas como o controle da inflação e o crescimento do PIB acima das expectativas em 2024, os índices de aprovação pessoal e do governo ainda oscilam em patamares inferiores ao desejado.

   Para reverter esse quadro e ganhar fôlego político até o fim do mandato, o governo precisa assumir prioridades claras, comunicar melhor seus feitos e fortalecer alianças estratégicas com a sociedade.

   Um dos principais gargalos da atual gestão é a comunicação. Apesar de conquistas concretas -como a valorização do salário mínimo, o avanço em obras do PAC e em programas sociais-, parte significativa da população desconhece ou não associa essas medidas ao governo federal.

   Lula e sua equipe precisam investir em uma comunicação mais ágil, direta e com linguagem acessível, especialmente nas redes digitais, onde a disputa de narrativas com a direita é feroz. É preciso sair da bolha institucional e conversar com o Brasil real -utilizar rádios regionais, influenciadores populares e lideranças comunitárias para levar a mensagem adiante. Dialogar com os segmentos religiosos, hoje em dia expressivos na formação da opinião pública e na mobilização popular.

   Embora os indicadores macroeconômicos estejam melhores, a percepção no bolso do cidadão ainda é de dificuldade. O governo deve concentrar esforços em políticas que impactem diretamente na vida das famílias de renda mais baixa. Isso inclui: acelerar o programa Minha Casa, Minha Vida com foco na faixa 1 (renda mensal até R$ 2,85 mil), beneficiando os mais pobres; crédito acessível a pequenos empreendedores, especialmente informais e MEIs; nova rodada de valorização do salário mínimo e ampliação de programas de qualificação profissional (deveria ser a terceira condicionalidade do Bolsa Família); estímulo à indústria nacional e às compras públicas locais, em especial produtos da agricultura familiar, para geração de empregos em larga escala.

   A pauta da segurança pública ainda é um ponto frágil. O aumento da violência urbana e a sensação de insegurança nas grandes cidades pressionam o governo a adotar uma postura mais assertiva. Lula precisa assumir o tema como uma prioridade nacional – sem ceder ao populismo penal, mas também sem se esquivar do debate.

   Daí a importância de ampliar o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci 2), priorizar a parceria com os Estados e investir em tecnologia para as polícias.

   A governabilidade depende da articulação política. Lula deve fortalecer o diálogo com o Congresso, buscando pactos mínimos em temas de interesse popular -como reforma tributária sobre o consumo, desoneração da folha para setores estratégicos e regulamentação das plataformas digitais.

   Também é crucial recompor pontes com setores do centro político e com governadores de diversos espectros ideológicos, promovendo uma agenda federativa que contemple obras, investimentos e programas sociais coordenados.

   A juventude, que em 2022 foi às urnas por esperança, hoje se mostra distante da política tradicional. O governo precisa ampliar as políticas para esse público -educação de qualidade, cultura periférica, esportes juvenis, apoio ao empreendedorismo jovem e protagonismo ambiental.

   Programas como o Pé-de-Meia são importantes, mas precisam ser amplamente divulgados. O engajamento dessa geração será decisivo para a consolidação de um legado progressista e sustentável.

   Lula voltou a colocar o Brasil no mapa geopolítico, mas essa atuação precisa gerar dividendos concretos internamente. A realização da COP30 em Belém em 2025, por exemplo, é uma oportunidade de ouro para posicionar o Brasil como referência em transição energética, proteção ambiental e inclusão social.

   Ampliar os investimentos em energia limpa, proteção da Amazônia com emprego e renda, e cooperação internacional pode fortalecer a imagem do governo, especialmente entre setores urbanos e ambientalistas.    Mais do que disputas retóricas, a grande arma de Lula para reverter a imagem em queda nas pesquisas é entregar resultados concretos para quem mais precisa. Comunicar bem, priorizar o que importa e manter uma escuta ativa com a sociedade são pilares para resgatar confiança e garantir a governabilidade. O tempo ainda está a favor -mas o relógio político-eleitoral começa a acelerar.

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Dialogos do Sul

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