miércoles 19 de marzo de 2025
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Reagan, Trump e a “destruiçãoinovadora”

Rio de Janeiro (Observatório Internacional do Século XXI): A década de 70 do séculopassado, os EUA sofreramumasérie de reveses militares, econômicos egeopolíticos: foram derrotados na Guerra do Vietnã;surpreendidos pela Guerra do Yom Kippur e pelacriação da OPEP e a subida dos preçosinternacionaisdo petróleo; e foramsurpreendidosuma vez mais pela Revolução doAiatoláKhomeini, no Irã, em 1979; seguida pela “crise dos reféns”americanos que forammantidos presos durante 444 diasnaembaixada dos EUA em Teerã, culminando com a invasão soviéticado Afeganistão, em dezembro de 1979.

Por José Luís Fiori

Muitos analistas falaramnaquele momento de uma “crisefinal da hegemonía americana”. Frente a essasituação de declíniorelativo de poder, entretanto, os EUA destruíram a ordem mundialque haviam criado depois da Segunda Guerra Mundial e adotaramuma nova estratégia internacional, como objetivo de mantersuaprimazia mundial. Primeiro, aceitaram a derrota, renderam-se eassinaramumacordo de paz com o Vietnã; ao mesmo tempo,abandonaram o padrão-dólar que haviam imposto aomndo emBretton Woods, em 1944; em seguida, pacificaram e reataramrelaçõescom a China; e enterraram definitivamente seuprojetoeconômicodesenvolvimentista, impondouma abertura edesregulaçãofinanceira da economia internacional, enquantoiniciavamuma nova corrida armamentista, conhecida como a 2ª.Guerra Fria, que culminoucom a derrocada da União Soviética. Umverdadeirotufão conservador e neoliberal, que começou no governode Richard Nixon e alcançousuaplenitude durante o governo de
Ronald Reagan, mudando radicalmente o mapa geopolítico domundo e transformando de forma irreversível a face do capitalismomundial.
Agora de novo, na segunda e terceira décadas do século XXI,os EUA vêmsofrendonovos e sucessivos reveses militares,econômicos e geopolíticos. Foram derrotados no Afeganistão eobrigados a uma retirada humilhante da cidade de Cabul, emagosto de 2021; estãosendo derrotados de forma inapelávelnaUcrânia; sofreramumaperda significativa de credibilidade moralem todo mundo, depois do seuapoioaomassacreisraelense dospalestinos da Faixa de Gaza; vêmsofrendoumprocesso acentuadode desindustrialização e suamoeda, o dólar vemsendoquestionadopor seu uso como arma de guerra contra países concorrentesouconsiderados inimigos dos seusinteresses; e por fim, os EUA têmperdido posições importantes nasuacompetição tecnológico-industrial e espacial com a China, e nasua disputa tecnológico-militar com a Rússia.
Neste momento, uma vez mais, o governo norte-americano deDonald Trump está se propondorefazersuaprimaziaatravés deuma nova mudança radical de sua estratégica internacional,combinando doses altíssimas de destruição, comalgunas propostas disruptivas e inovadoras no campo geopolítico eeconômico, partindo de umaposiçãode força e sempretensõeséticas oumissionárias, e orientando-se apenas pela bússola dosseusinteressesnacionais.
A principal consigna de campanha de Donald Trump -“fazera América grande de novo”-já é por si mesma, umreconhecimentotácito de que os EUA estão enfrentando umasituação de criseoudeclínio que precisa ser revertida. E suasprimeiras medidas sãotodas de natureza defensiva: seja no caso da sua políticaeconômica mercantilista, seja no caso da “barreira balística” que eleestá se propondo construir em torno do território americano. E omesmo se pode dizer de suasagressões e ameaçasverbais, que temsido dirigidas contra seusvizinhos, aliados e vassalosmaispróximos eincondicionais.
De qualquermaneira, o mais importante tem sido o ataqueavassalador e destrutivo de Donald Trump e seus auxiliares maispróximos, contra as regras e instituiçõespróprias da orden internacional construída pelos EUA, como resposta à suacrise dos anos 70 do séculopassado. E contra os últimos vestígios da orden mundial do pós-Segunda Guerra, como no caso das Nações Unidase do seuConselho de Segurança.
Comênfaseparticular no ataquee destruição americana do multilateralismo e do globalismoeconômico que se transformaramna principal bandeira americanado pós-Guerra Fria. Neste capítulo das “destruições”, deve-sesublinhartambém o ataque seletivo e estratégico do governo Trumpcontra todas aspeças de sustentação interna -dentro do própriogoverno americano- do que eles chamam de deepstate, averdadeira base de sustentação e locus de planejamento dasguerras norte-americanas.
No plano internacional, entretanto, a grande revolução-seprosperar- será efetivamente a mudança da relação entre os EUAe a Rússia, que vemsendoproposta pelo governo de Donald Trump.
Umainflexãomuito profunda e radical, muitomais do que foi areaproximação entre os EUA e a China, naprimeirametade dosanos 70. Porque, de fato, no século XX, os EUA herdaramumainimizade, competição e polarização geopolítica construída pela
GrãBretanha contra a Rússia, desde o momento em que seconsagrou a vitória dos russos e dos ingleses contra a França deNapoleão Bonaparte, no Congresso de Viena, de 1815.
Desde então,os russosforam transformados pelos ingleses em seus “inimigosnecessários”, e serviram como princípio organizador da estratégiaimperial inglesa. Umarealidade histórica que foidepois consagradapela teoria geopolítica do geógrafo inglês Halford Mackinder,segundo a qual o país que controlasse o coração da Eurásia, situado
entre Moscou e Berlim, controlaria o poder mundial.
Por isso, osingleses lideraram a Guerra da Criméia, entre 1853 e 1856,contraos russos; e de novolideraram a invasão da Rússiadepois do fimda Primeira Guerra Mundial; e cogitaramfazer o mesmo logo depoisda Segunda Guerra. Umaobsessão de Winston Churchill queacaboucedendo lugar aoprojeto de construção da “cortina de ferro”e da OTAN.
Essaobsessão inglesa foirepassadaaos norte-americanosdepois da Segunda Guerra Mundial e estevenaorigem da GuerraFria. A partir de então, os EUA e a GB (juntocomseus aliados daOTAN), construíramuma gigantesca infraestrutura militar -material e humana- destinada a “conter os russos” e, se possível,derrotá-los estrategicamente. A última tentativa foifeitaagoranaGuerra da Ucrâniaefracassouuma vez mais.
E se o projetoatualde Donald Trump de aproximação da Rússia prosperar, ele estará
sucateando toda essainfraestrutura junto comtodas asdemaisalianças americanas construídas a partir de 1947, com vistas à esta“guerra final” contra os russos. Nao e poucacoisamuito pelo contrário, e muitos líderes euro-atlânticos que tentaram romper
essabarreiraficaram pelo caminho. Podendo-se prever, inclusive, apossibilidade de algum tipo de atentado ouauto-atentado, a partirdo próprio mundo anglo-saxão, como objetivo de barrar estamudança de rumo norte-americana.
Sim, porque está sendo rompida e enterrada a aliançaestratégica anglo-saxônica, que foi fundamental para a dominaçãoocidental do mundo, desde a Segunda GuerraMundial,desmontando-se ao mesmo tempo, como umcastelo de cartas, oprojeto da OTAN, o G7, e talvez a própriaUniãoEuropeia.
Mas nadadisto encerra a competição interestatal pelo poder global. O projetode Trump diminui a importância da Europa e diminui a importancia da fronteira europeia da Rússia, deslocando as linhas de fratura dageopolítica mundial para o Ártico e para o Sul do Pacífico. Mas aprópriacobiça de Trump comrelaçãoao Canadá e à Groenlândia
explicita seuprojeto de construção de uma grande massa territorialequivalente à russa, justo em frente à fronteira norte e ártica daprópriaRússia.
E ao mesmo tempo, o projeto de negócios conjuntosentre russos e norte-americanos, que vemsendo insistentementeanunciado, sobretudonaregião do Polo Norte, aponta para umpossíveldistanciamento futuro e “pelo mercado” da Rússiacomrelação à China, para não permitir que seconsolide umaaliançaestratégica inquebrantável entre Rússia e China, ou mesmo entreRússia e Alemanha. Porque a China seguirá sendo no Século XXI,o principalcompetidor e adversário dos EUA, neste planeta e noespaço sideral.
A estratégia americana de “destruiçãoinovadora” terá -destavez- o mesmo sucessoque teve no séculopassado, com RichardNixon e Ronald Reagan?
É difícil de saber, porque não se sabequanto tempo durará o projeto de poder de Donald Trump e seusseguidores. E em segundo lugar não se conhece o impactomundialde uma política econômica mercantilista e defensiva, praticada pelamaioreconomia do mundo. O nacionalismo econômicofoisempreuma arma dos países que se propõem “subir” nahierarquiainternacional, e não de um país que nãoquer “descer”.
De qualquermaneira, do ponto de vista geopolítico o projeto Trump pode estar
apontandonadireção de um grande acordo “imperial” tripartite,entre EUA, Rússia e China, como também pode estar apontandopara o nascimento de uma nova ordem multipolar que lembra, decerta forma, a históriaeuropeia do século XVIII.
Com a grandediferença que agora o “equilíbrio de forças” do sistema envolvería umacompetição entre potênciasatômicas de grande dimensão,quaseimpérios, como é ocaso dos EUA, da China, da Rússia, daÍndia, e da própriaUniaoEuropeia , caso ela consiga se reorganizar e rearmarsob a liderança da Inglaterra ou da Alemanha. E, em
menor escala, da Turquia, do Brasil, da Indonésia, do Irã, da ArábiaSaudita e da África do Sul.
Um mundo difícil de ser administrado,e um futuro impossível de serprevisto.

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