sábado 26 de abril de 2025
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Consenso sobre unidade e flexibilidade é crucial para evitar “brexit do Mercosul”

Montevideo (Diálogos Do Sul Global): O futuro do Mercado Comum do Sul (Mercosul) dependerá de como seus membros vão resolver as tensões atuais.

Por Aram Aharonian

   Uma, se serão flexibilizadas as normas para permitir acordos bilaterais sem romper o bloco; outra, se será possível, finalmente, a assinatura do tratado com a União Europeia (UE). A terceira, não menos importante, é se a China se tornará o sócio comercial prioritário do bloco sul-americano, já com 30 anos.

   Enquanto alguns países defendem a necessidade de fortalecer o bloco como um instrumento para negociar de uma posição de força, outros consideram que a flexibilidade e a autonomia nas negociações individuais poderiam gerar maiores benefícios a curto prazo. Este debate interno será fundamental para definir o futuro do Mercosul e sua relevância em um contexto global em constante mudança.

   O novo governo de centro-esquerda do Uruguai definiu seu lugar no mundo: priorizará o fortalecimento do Mercosul, a ratificação do acordo do bloco com a União Europeia, um papel ativo na Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e diálogo com países emergentes por meio de uma possível participação no Brics.

   Hoje, o Mercosul encontra-se diante de uma disjuntiva fundamental: deve conservar a unidade do bloco para manter uma posição conjunta no diálogo com outros atores globais, ou seria mais conveniente que cada membro busque acordos bilaterais por separado, adaptando-se a suas próprias prioridades econômicas e geopolíticas, rompendo mais de duas décadas de esforços integradores?

   Fato é que, há anos, os países do Mercosul mantêm diferenças sobre a direção que o bloco deve tomar. O Uruguai estimula acordos bilaterais, como sua negociação com a China; o governo ultradireitista da Argentina fala de um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, desviando totalmente o foco de atenção; já o Brasil, prefere optar por uma estratégia de negociação conjunta; o Paraguai, por sua vez, oscilou entre ambos os enfoques, sem conseguir um consenso claro.

   Esta falta de avanços levou vários líderes a questionarem se o acordo com a UE continua viável ou se o bloco deveria reorientar seus esforços e focar em outros sócios comerciais. E, em momentos decisivos, sempre aparece alguma interferência do governo estadunidense, com alguma proposta que supostamente pode ser melhor do que a do acordo UE-Mercosul, apesar do rotundo fracasso da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) impulsionado em dado momento pela Casa Branca.

   O novo governo uruguaio indicou que se propõe “ser com outros” na arena internacional, compensar o pequeno tamanho buscando agregações de interesses na vizinhança imediata, na América Latina e com atores de outras regiões, próximos na vocação pelo desenvolvimento. Caso se concretize finalmente, será um dos acordos mais importantes do mundo do ponto de vista comercial, já que inclui 31 países.

   A implementação, que se daria em meados do ano próximo, exige desde já trabalhar para construir realmente este grande mercado. O Uruguai foi o principal estimulador de um acordo comercial com a China. Em 2022, anunciou negociações para um Tratado de Livre Comércio (TLC) com o gigante asiático, o que gerou tensões dentro do Mercosul devido às normas que requerem negociações conjuntas com terceiros países. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, enfatizou a urgência de finalizar o acordo com a UE antes de considerar negociações com a China.

   Quanto ao acordo com a União Europeia (UE), o Mercosul está há mais de 20 anos negociando-o. Em 2019, chegou-se a um princípio de acordo, e no final de 2024 anunciou-se a mesma coisa, mas a assinatura definitiva ainda se vê obstruída por diversos obstáculos.

   A França, por exemplo, rejeita a concorrência dos produtos agrícolas sul-americanos e exige maiores compromissos ambientais por parte do Brasil, que teme que a abertura de seus mercados a produtos manufaturados europeus prejudique suas indústrias nacionais.

   Enquanto a União Europeia postergava ano após ano o acordo, a China se tornava um ator chave na economia sul-americana. Seu interesse em um TLC com o Mercosul (ou com países individualmente) abriu um debate dentro do bloco.

   Para o Brasil o comércio com a China já é essencial, mas teme que um acordo de livre comércio possa aprofundar a dependência da região na exportação de matérias-primas sem gerar um desenvolvimento industrial sustentável. Uruguai e Paraguai veem na China uma oportunidade para expandir seus mercados sem as restrições impostas pelo Mercosul.

   O Brasil reconhece a importância da China como sócio comercial, mas afirmou que um acordo bilateral entre Uruguai e China poderia debilitar o Mercosul. Argentina e Paraguai não mostraram um interesse explícito em negociar um acordo com a China e mantiveram uma posição mais conservadora.    O chanceler uruguaio Mario Lubetkin descartou “um brexit do Mercosul” (em referência à saída do Reino Unido da União Europeia), apesar do que disse o libertário presidente da Argentina, Javier Milei, que busca um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos e ameaçou abandonar o bloco regional, caso fosse a única alternativa para lográ-lo.

Identificador Sitio web Ecos del Sur
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