“A mídia brasileira é o grande problema nacional.” A fala contundente do jornalista Leonardo Attuch, fundador da Editora 247, resume o papel central da comunicação na disputa de rumos do Brasil.
Em entrevista à diretora da revista Diálogos do Sul Global, Vanessa Martina-Silva, no programa Sul Globalizando da última quarta-feira (30), Attuch afirma que a imprensa tradicional é “controlada pelo capital financeiro rentista de curto prazo” e impede o avanço de um projeto soberano de país.
Nesse sentido, o jornalista faz uma crítica enfática ao modelo de comunicação do governo Lula. “Tudo deveria ser anunciado primeiro na EBC. O governo precisa pautar o debate, não seguir a pauta dos seus adversários”, explica.
Outra lacuna apontada pelo especialista é a falta de investimento público em comunicação internacional e conteúdo sobre o Brasil em idiomas estrangeiros. “A China e a Rússia entenderam que comunicação é poder. O Brasil ainda não”, observa o entrevisado, que acrescenta um alerta: “Sem uma comunicação soberana, o Brasil pode ser novamente capturado. Não é só sobre economia -é uma batalha ideológica. E a esquerda não pode continuar falando sozinha.”
Attuch sustenta que o Brasil vive um dilema entre se alinhar à lógica especulativa de Wall Street ou apostar na construção de uma nova ordem mundial ao lado do Brics. “O Brasil está muito bem posicionado do ponto de vista macroeconômico para ter autonomia. Mas falta consenso político sobre a centralidade do Brics”, avalia.
Para ele, o país precisa assumir sua liderança regional e adotar uma estratégia clara de integração com a Ásia e a América do Sul.
O fundador do Brasil 247 também destaca o papel estratégico da ex-presidenta Dilma Rousseff, hoje à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). “Dilma é reconhecida globalmente. Foi reeleita para uma vaga que seria da Rússia. Isso mostra a confiança que líderes como Xi Jinping e Putin depositam nela.”
Sobre os Estados Unidos, Attuch destaca que a ascensão de Donald Trump acelera a crise da hegemonia ocidental. “Trump agride aliados tradicionais e desmoraliza os EUA. Isso abre espaço para um mundo multipolar.”